02.
Cheguei da escola, no condomínio, peguei a chave da porta de casa debaixo do extintor, nunca tive a santa disposição de tirar a cópia da chave. Ao perceber que a chave estava lá, logo me toquei de que minha mãe, ou meu padrasto, não estavam em casa, o que era muito oportuno, para uma tarde sossegada, sem ter de ir ao supermercado, padaria, ou ir comprar mingau de milho na porta do condomínio vizinho. Quando entrei no quarto me deparei com Ella na minha cama, e tomei um susto tremendo, e me perguntava com ela tinha entrado no meu quarto, na minha casa, e estaria consequentemente, na minha cama, deitada desleixadamente, em meio a minhas revistas e livros.
Detesto, odeio, abomino, quando mexem em meus livros , e por incrível que pareça, Ella sabia disso como ninguém, e ainda sim, teimava em me irritar. Tive vontade de atacá-la, e enche-la de pancadas, eu estava realmente com ódio.
- Ella, quem mandou tocarem meus livros? Hã? Eu mandei por acaso? Saco, tu sabe que eu odeio. - disse então.
Enquanto falava, tirava minhas revistas das mãos dela, e pegava as que estavam na cama.
- Desculpa Sam, pensei que não fosse se importar poxa, sou tua melhor amiga, caramba. Eu não vou te roubar. - ela respondeu minha pergunta, tristemente com ar de magoa.
- Por acaso, eu disse que tu ia roubar Ella? Eu disse isso? Disse? - retruquei sem pensar antes de dar um corte nela.
- Não Sam, mas insinuou, desculpa então. - falou enquanto ia á cozinha.
Ela realmente parecia estar magoada. Se eu a perdesse, eu estaria ferrada, é. Corri para a cozinha, pensando em me desculpar. Gritei o nome de Ella, e ela respondeu com um assovio. Quando apareci na cozinha, ela estava atacando a mousse de limão, que minha mãe deixara pra mim na geladeira, que curiosamente Ella estava devorando.
Geralmente, ela faz isso pra me irritar, e quando ela ver que eu ignoro, ela vai fazendo coisas piores até que eu perceba e brigue realmente com ela, mas nem fiz isso.Apenas sentei-me ao lado dela na mesa da cozinha, peguei uma colher, e fui tomando do mesmo mousse que estava no copo dela, e não estava nem aí, porque se ela reclamasse, ela estaria de intrusa em minha casa, haha, aqui ela não tem direitos. Nem me reconheço falando assim dela, uaau.
Quando deu por si, ela perguntou a mim se estava chateada com ela.
- Claro né? Cê ta pensando o que? São minhas distrações. o que você esperava?
Ella riu, e disse que não iria mais acontecer.
Lembrei-me então, que tinha algo a perguntar pra ela, e não hesitei.
- Ella, como foi que você entrou aqui? – fiz uma cara de “responde essa se puder.”.
Charlei então saiu do banheiro enrolado na minha toalha respondendo a pergunta, dizendo:
- Eu tirei uma cópia pra você bebê!
Aquela atitude dele, carinhosa em me chamar de bebê, que eu amava, me fez esquecer de que ele estava enrolado em minha toalha, ignorei o fato, e sorri.
- Tá certo Charzinho, vá se vestir, antes que alguém te veja assim seu inútil. – disse esperando irritá-lo. E consegui.
- Haha, Sam, bobona, eu já to indo. – disse rindo.
Ta, beleza, então, eu tinha dois invasores, com a cópia da chave do meu ap, e eles poderia invadir a hora que quiserem como faz?
Char brincou com Ella e eu, vestia meus vestidos e falava coisas como: vem a bailar comigo mi amor. Tentando fazer sotaque, enrolava a língua, e conseguia tirar risadas da gente, como só ele fazia.
Eu só não gostei quando Char pôs um boné e brincou que era um menino afim de mim, e disse:
- Oi Sam, case comigo, enquanto te quero, ou morrerás solteira.
Eu ri. Mas um riso sem graça, sem vontade, meio que sem jeito, e com certo ar de incômodo.
Quando perceberam isso, eles pararam de rir.
- Desculpa Samizinha! Foi sem querer.
Charlei parecia sem graça ao dizer isso.
Quando isso acontece, ele fica encabulado ao falar comigo novamente. Uma vez ele brincou que ninguém me amava, e foi duro ouvir essa meia verdade de alguém que eu pensava me amar. Foi quase 5 dias, só vendo o Char, e me perdendo no labirinto que eram seus olhos negros, como a noite sem luar, sem poder dar uma palavra com ele. Isso me magoava muito. Mas aí, ele disse pra mim que estava brincando, e que sentia muito pela brincadeira sem graça que havia feito. Disse também, que me amava, e me amava de verdade, e que um dia, eu descobriria que ninguém poderia me amar tanto quanto ele. Aquilo me deixa intrigada até hoje.
Eu ignorei o fato de que Charlei zombou de mim, e o abracei, só porque lembrei o fato dele ter dito que me amava.
Char me abraçou tão, tão, tão apertado, e com vontade, que eu poderia jurar que havia me perdido em seus braços. Sua respiração, porém, estava tão ofegante quanto a minha estava. Até achei que havia rolado um clima, mas era impossível, e ainda é. Só fiz isso porque Ella não estava no quarto, se ela estivesse, tenho a certeza de que teria fica muito enciumada, a ponto de parar comigo.
Lembrei-me de Ella na cozinha, larguei-me de Char, e me retirei do quarto, indo a tal direção.
Sentia-me esquisita, ainda pelo abraço em Charlei. Havia até mesmo um brilho em meus olhos. Coisa de idiota.
Ao chegar à cozinha, vi que Ella não estava lá, e a porta central da sala estava aberta. Restava dúvida na minha cabeça! Teria Ella visto algo de comprometedor no abraço entre Charlei, e eu?
Eu estava tão surpresa, que talvez não me importasse, só sei que ela poderia ter certeza, que por ele, eu nada sentia pelo menos por enquanto. Só se meu sentimento teimasse em desenvolver-se depois, o que eu penso ser quase impossível.
Continua no próximo capítulo...
Eu não gosto da Ella G_G
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