quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A Saga de Samantha. Cap.04

04.

Bati na porta do quarto dela, e antes que ela falasse alguma coisa, qualquer coisa, eu perguntei:
- Mãe, qual foi o porquê do ato?
Ela começou a chegar pra perto de mim, e falava coisas sem sentidos, e eu parecia não entender nada. Nunca tinha ouvido coisas tão sem lógica, como as que ela falava.
- Quando você era pequena tinha esses ataques Sam. Inventava histórias pra chamar atenção de todos ao teu redor, pensei que pudesse ter voltado. – ela explicou.
Ela nunca me dissera isso, e eu não me recordava. Parecia que ela tava mentindo pra mim, mas a imagem dela passava trauma, seqüelas, sofrimento, tanto sofrimento, que me comovia. Acreditei.
Perguntei á ela como tinha feito pra saber se eu realmente tava mentindo, e ela disse que não sabia. Bem argumentativa ela, não?
Ela disse também que quando eu era pequena, com três anos, tinha consultas com psicólogo, mas como? Ela me disse que com três anos, eu morava com a tia Ellen, no EUA, eu não entendo.
- Mãe, você está mentindo pra mim? De novo? A senhora disse que eu tinha viajado pro EUA com a tia Ellen, quando eu tinha essa idade. – encostei-a na parede.
- Não, Samantha, não. Você nunca saiu do Brasil. Nunca! Essa viagem nunca aconteceu, e Ellen? Nunca tive uma irmã com esse nome, nem seu pai. – ela respondeu.
Não conseguia entender porque eu não me lembrava disso! Realmente nunca vi fotos dessa tal de tia Ellen, nem nunca ouvia o nome dela entre os membros da família, mas a minha mãe me disse isso, e eu acreditei nisso a minha vida toda.
- Mãe essa viagem aconteceu! Eu lembro dos meus amigos de lá. Lembra? O Charlei? A Ella? Eu os conheci lá.
- Não sei onde você os conheceu Samantha, mas com certeza, não foi nessa viagem. – respondeu irritada.
Eu não estava entendendo mais nada que saia da boca dela, eu não entendia sequer a história da tia Ellen.
- Olha, depois, outro dia, eu prometo te contar tudo. Hoje, precisas descansar filha.
Mas eu não acreditei, ela não soube me explicar, ela não me deu um motivo concreto. Eu ignorei a história.
Levantei do quarto, fui à sala e liguei pra Vanne.
- Alô? – perguntei.
- Oi, quem fala?
- É a Sam, eu posso falar com a Vanne?
- Sam quem? – perguntou a secretária do escritório de advocacia onde Van trabalhava
- Meu Deus! Eu posso falar com a minha irmã? – perguntei hiper irritada.
- Desculpe senhorita Sam. – ela disse.
- Tá, tá, chama logo ela. – ignorei.
Eu precisava de uma amiga, e com certeza, no momento, não teria melhor, e mais apropriada, que a minha irmã.
- Oi Sami, fala.
- Vanne, a gente pode se encontrar? Amanhã? Preciso conversar.
- Claro Sam, qualquer hora. Eu passo na tua escola amanhã, e te pego, pode ser?
Eu não estava nem um pouco afim, de ir ao parque de uniforme, mas conversar com a minha irmã, me faria esquecer isso, com toda certeza. Concordamos, e enfim desliguei.
Quando fui ao quarto, meu celular estava tocando. Uma nova mensagem. Reconheci pela campainha, que era do Luiz.
Na sms ele perguntava: Sam, você está melhor? Beijos, Luiz Guilherme.
Eu liguei pra ele, e disse que iria a escola no dia seguinte, mas que não sabia com que rosto aparecer, depois das circunstancias vivenciada por um grupo de colegas da escola, embora poucos tivessem tido contato comigo naquela noite.
- Ok, só lembre-se Sam, de que eu estou aqui. – ele disse.
- Gui, por que você me trata assim? – perguntei timidamente o Luiz Guilherme.
- Samantha, eu sempre quis dizer isso mas... – interrompi a fala dele.
- Oh Luiz, depois nos falamos. Amanhã, na escola, tudo bem?
E com um ar de decepção eu acho, por não ter terminado de falar. -ele concordou.
- Obrigada, tenho que desligar.
Desliguei e fui correndo até a minha mãe. Que foi o motivo de eu ter desligado.
- Mãe, por que me chamou?
A cozinha estava de cabeça pra baixo.
- Sam, que bagunça foi essa filha? Detonaram a minha cozinha!
Lembrei que Ella fora a única a está na cozinha naquela noite.
- Mãe, foi a Ella. Perdoe-a. E perdoe a mim por ter permitido. – falei calmamente.
Não queria que ela proibisse Ella de ir ao apartamento, e ser a minha companhia da tarde ao lado de Charlei.
- Que amiguinha bagunceira essa hein dona Samantha?
Tive que concordar. Fiz que sim com a cabeça sorrindo. E ela riu também.
- Tudo bem Sam, dê um jeito nessa bagunça, estou indo dormir. Hoje, tive uma grande entrevista.
Entrevista de emprego. E com certeza, ela havia conseguido.
- Quando eles avisarão?
- Acho que ainda hoje, atenda em meu lugar se puder. Ok?
- Ok! – nosso desentendimento tinha fechado ali.
Lembrei que o meu pânico da tarde havia sido culpa de um telefone, e desistir da idéia de ter que atender um telefonema inusitado novamente. Era melhor evitar.
Quando realmente reparei na bagunça que Ella tinha feito, meu desejo ela que ela aparecesse na minha frente! E ela ia arrumar a maldita bagunça que ela fez.
Nesse instante o Charlei apareceu na janela.
- Char idiotinha?!
- Hehe, oi Sam, quer ajuda? – ele perguntou rindo.
- Toda a ajuda do mundo! – respondi aliviada.
- Tá, só ajudo a Samantha, se ela disser que o Char não é idiota. Caso contrário, ela vai arrumar a cozinha só.
Oh, Charlei estava se tornando um tremendo chantagista, e eu zoei do fato dele pedir que eu repetisse tamanha quase verdade.
- Char, sua mãe nunca te ensinou a não mentir? – perguntei sorrindo.
- Haha, muito engraçada. Vou marcar na minha agenda um horário pra rir na próxima quarta-feira, dessa sua piadinha sem graça. – ele respondeu, e apesar do meio corte, ele estava rindo.
Paramos de rir. Pra minha mãe não perceber. A dona Susana detestaria saber que sua filha estava na cozinha á sós com um garoto da mesma idade.
- E aí Charlei? Vai me ajudar ou não?
- Me dá três motivos bem convincentes. – ele pediu.
Nunca fui boa nessa brincadeira de “dar motivos” pra tal coisa. Mas eu tentei.
- Primeiro motivo, a Ella é quase tua namorada, e vocês comem de graça na minha humilde casa, e ainda a deixam completamente desorganizada.
- Primeiro motivo aceito. – ele concordou. – Mas a Ella e eu não somos namorados. – ele completou.
Não precisava ele ter me dito isso, mas eu não disse nada a respeito. Afinal, ele poderia está querendo alguma coisa com tal fato.
- Ok, ok. Segundo motivo, eu não tive uma tarde muito boa, e estou exausta. Vale uma ajudinha de um velho amigo.
- Segundo motivo aceito. – ele disse.
- Terceiro motivo, Ah, querido Char, quem ama ajuda. E eu sei que você me ama, e não é pouco. Assim como eu te amo.
- Oh Sam, terceiro motivo, valeu por todos.
Eu percebi então que Char ficava feliz toda vez que eu dizia que o amava. Às vezes eu penso que Char sente algo a mais por mim, e não entendo o porquê, já que ao mesmo tempo, ele demonstra mais isso por Ella que por mim. E até mesmo, eu sempre achei que existia alguma coisa entre eles dois. Quando iam a minha casa estavam juntos. Quando marcávamos algo, eles chegavam juntos. Parece que eles tinham nascido colados, isso me irritava. E na maioria das vezes, até a mesma opinião eles tinham.
Char me ajudou, fez até mais que eu. E fez isso cantando. Cantando baixo, claro.
Terminamos a cozinha, Char foi embora, pelo mesmo lugar que entrou. A janela. Eu tranquei a casa. Fiz questão de fazer isso para certificar eu mesma, de que não havia possibilidades de alguém voltar a entrar nessa casa. Pelo menos naquela noite. Eu queria ter a certeza de que poderia dormir tranqüila em meu quarto.
Subi, tomei banho, vestir qualquer peça confortável de meu guarda-roupa, e deitei-me.

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