quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A Saga de Samantha. Cap.05

05.

Antes de dormir, pensei no Luiz. E isso nunca tinha acontecido antes! Fiquei surpresa. Porém, o mais estranho, foi que meu pensamento foi dividido. Dividido entre Luiz e Charlei. Mas o Luiz ainda sim, dominava.
Eu olhava a foto ao lado da minha cama, em que eu e o Gui estávamos no parque. E ao passar a mão em seu rosto, pelo quadro, eu jurava que podia sentir sua essência, e a delicadeza de sua esplêndida face, que me persuadia, é estranho, mas persuadia sim.
Não fiz som algum. Alucinada, eu tentava conectar meu coração ao dele, e fazer com que ele se sentisse como eu me sentia. Foi bom e nossa! Nesse momento meu celular vibrou, e o número era não identificado. Eu estava tão distraída, que não cheguei nem a imaginar a possibilidade de ser o mesmo telefonema que eu havia recebido a tarde. E por sorte, realmente não era.
Era apenas a Vanne, dizendo que não poderia conversar comigo amanhã, porque teve uma causa de emergência na qual ela teria que conseguir um habeas corpus para um juiz, pra resolver um caso.
Eu estava tão lerda, que nem entendia o que ela estava falando. Apenas concordei com cada coisa que ela dizia, até que ela teve que desligar o celular.
Eu apaguei. E dessa vez, eu não tinha desmaiado, só dormido mesmo, e agora eu ia dormir!Não só duas horas, mas até amanhã seguinte, na hora de acordar pra ir a escola encontrar com o Luiz.
Embora não façamos a mesma série pelo fato do Luiz ter dezesseis anos, a gente sempre se encontrava no intervalo, e depois da aula, ou até antes, porque moramos bem próximos. Eu adorava sua companhia.
De repente, eu começo a contemplar o Luiz. Vejo-o com outros olhos. Será que minha retina estava debilitada a ponto de me fazer desperceber e ignorar completamente a beleza da personalidade e do caráter que o Luiz tinha?
Não entendo porque só agora, eu começo a vê-lo assim.
Mas isso não me importa. Eu sonhei essa noite. Sonhei que estava acordando, e acordando, estaria num período mais próximo de ver o Luiz. O que me deixava a mil, e fazia meu coração literalmente vibrar.
Acordei feito uma boba, sorrindo já. Eu sabia que o Luiz ia se declarar pra mim, e com certeza, eu faria o mesmo, e da melhor maneira possível. Como eu achava que ele merecia.
Levantei da cama, escovei os dentes, tirei a roupa, tomei banho, e fiz tudo o que deveria fazer até ficar pronta.
Deixei os cabelos soltos mesmo, e fui naturalmente pra escola. Quando cheguei, vi o Luiz na porta. Ele estava sensacional! Seu cabelo, perfeito, estava combinando com o brilho dos seus olhos. Naquele exato momento, o único defeito visível do Luiz Guilherme, era que ele estava conversando com a Camila, e pelo que eu soube, ela gostava dele. E o pior de tudo, é que eles estavam sorrindo. E o sorriso deles dois juntos, me fazia chorar por dentro. E mesmo não querendo acreditar, eu acabara de ter meu primeiro ataque de ciúmes.
Cheguei perto deles, com uma cara meio irônica. Gui perguntou como eu estava. Eu disse que estava melhor. Camila sorriu. Eu sorri pra ela igualmente, mas não estava sendo sincera fazendo isso.
Guilherme ia falar algo.
- Sam, eu e a Camila, falávamos de...
Bateu o sinal, e tivemos que ir pra aula.
Não prestei atenção em nada das aulas de cálculo. Nem de Português, Ciências, ou qualquer outra matéria.
Eu passei a aula de cabeça baixa, escrevendo o nome do Luiz em uma folha de caderno.
A professora Anna de Geometria percebeu a minha enorme atenção á sua aula, e chegou perto. Viu que eu escrevia algo, e me tomou o caderno. Não sei se porque ela me odiava, ou porque era má mesmo, mas ela mostrou á todos o que estava escrito. Enquanto todos riam, me retirei da sala, com a minha mochila, falei com a diretora, inventei que estava passando mal, e ganhei permissão para ir pra casa.
Parei no parque, e deitei na grama. Comecei a ler um livro, que tinham me recomendado, e não parei mais. Quando dei por mim, o livro pela metade, já eram meio dia e meia, a hora que termina a nossa aula. Continuei lendo, mas meu pensamento estava longe. Na verdade não tão longe. A escola era bem perto do parque.
Eu percebi que o Luiz não havia saído ainda, e já tinham se passado alguns minutos.
Pensei que talvez ele pudesse estar me esperando. Mas resolvi aguardá-lo um pouco mais, e enquanto isso eu ensaiava minha declaração pra ele, mesmo que palavras faltassem em minha mente, e não saíssem em minha boca.
Esperei e nada. Eu estava nervosa, como tão poucas vezes eu me sentir antes na vida. Mas sabia que era a coisa mais correta a ser feita.
Na porta de entrada da escola, encontrei com Luana. Luana era loira, olhos castanhos claros, e tinha uma aparência de metida. O que não era nenhum pouco diferente da sua personalidade, pois ela realmente era bem mais do que aparentava. Ela era popular, e era conhecida com a princesinha da escola, ao lado de Camila. Mas pra mim, elas não passavam de mais uma.
Como ela era a minha opção mais próxima, e talvez a única, perguntei a Luana, se por acaso ela não teria visto o Luiz Guilherme. Ela ficou feliz por eu ter perguntado isso pra ela, na frente das amigas dela. O Luiz na escola era desejado pelas meninas. E de acordo com a rádio da escola, o seu cabelo era o mais desejado pelos meninos, e até mesmo pelas meninas.
Quando tinham arrecadação beneficente na escola, eram montadas barracas de beijo, e não era difícil imaginar, quem ganhava maior quantidade de votos para ser o “moço” da barraca, o Luiz, mas ele nunca aceitava a proposta, embora isso ocorresse vários anos consecutivos.
Luana respondeu, dizendo que tinha visto ele com a Camila, lá perto da cantina.
- Ok. Obrigada! – eu disse.
Eu olhava para os lados da cantina, e só via casais se beijando, aquilo era horripilante, mas sempre acontecia.
Especialmente, quando os supervisores não estavam por perto, não era proibido, contando que a aula já tivesse acabado. Eu sabia que reconheceria Luiz, pela camiseta vermelha de manga comprida, que ele sempre jogava por cima do ombro na escola. E eu nunca entendi o porquê disso, parecia sem lógica, sem razão. Mas vindo do Luiz, eu esperava qualquer função que fosse para aquela camiseta vermelha em seu ombro.
De repente, atrás de uma coluna do local, vi a camiseta, e o cabelo de Luiz, e corri pra falar tudo o que eu tinha pra falar. Estava falando isso há quase dez minutos em minha mente, imaginando a reação dele. Quando cheguei perto, vi uma mão, em volta de seu pescoço. Cheguei mais perto, e vi um rosto junto ao seu, quando enfim, fiquei o mais próximo possível, vi lábios junto aos seus, e com certeza, esses lábios não eram os meus. Eu vi aquela cena, como uma cena de terror em minha mente, eu não podia imaginar, como ele deixou aquilo acontecer. Ou melhor, como eu deixei. Perdi meu melhor amigo, que poderia ter sido meu futuro namorado, por ser tão idiota, e tê-lo esnobado por tanto tempo.
Eu queria matar aquela garota. Quando notaram a minha presença, percebi que era a Camila. Ele abraçou-a pela cintura, e me apresentou ela como “namorada”.
Ela me estendeu a mão, acho que na espera de um cumprimento, mas eu apenas entortei o pescoço pro lado esquerdo, entortei a boca pro mesmo lado, e subi a sobrancelha. Um tipo de careta típica de mim, e esse seria o único cumprimento que ela receberia de mim.
- Danem-se vocês. – eu disse, e sai saltitando balançando a cabeça, como se nada tivesse acontecido, e não esperava que o Luiz me seguisse. Mas o idiota me seguiu.
- Samantha Müller, que atitude ridícula foi aquela? – ele perguntou.
- Oh, querido ex amigo, incomodou-se com ela?- fiz a careta novamente.
Eu queria provocá-lo, mas realmente, queria pedir desculpas, eu sabia que estava errada.
- Escuta aqui Sam, nada que você faça vai me fazer voltar atrás com a Camila! Eu te esperei o tempo todo, e você só sabia me ignorar, o que você esperava? Que eu te esperasse o tempo todo?
- Não. Mas... – respondi sem graça, sendo interrompida.
- Então pronto! Se existe uma única pessoa nesse mundo que me domina, e domina meus sentimentos, essa pessoa é você, e a Camila sabe disso! Mas eu preciso de emoções Samantha, e a única que eu tinha com você, era sentir teu cheiro, e ser abraçado, só. E sabe o quê mais? Você só sabe falar do Char, Char, e ah, eu já disse que você só sabe falar do Charlei? E da Ella, eu também já disse? Samantha era contigo, só contigo que eu queria estar, mas você não quis. Não aconteceu com a gente. – ele disse abaixando a cabeça.
- Tá, ok. O que ia me dizer no telefone ontem? – não me contive.
Eu percebia no seu olhar, a carência de apoio que ele necessitava, a decepção e desapontamento que ele nunca pensava encontrar, tudo isso em uma só pessoa. Em mim.
- Eu ia tentar descrever o tanto que eu te amava, se você dissesse o mesmo, eu não pediria Camila. Pedi ela em namoro, hoje pela manhã. Mas pra você ver, nem tempo você tem pra mim. Viu só Sam? – ele parecia triste.
- Engraçado. – comecei a rir com delicadeza.
- O que Samantha?
- Eu ia te dizer isso, hoje, também pela manhã, quando te vi com ela.
- Dizer o que Sam? – ele perguntou.
Eu sei que o Luiz sabia, e lá no fundo, a verdade é que ele só queria que eu repetisse pra ele e ele ouvisse isso de mim. Não sei qual o prazer que ele achava em fazer isso. Mas também, no momento eu nem queria saber. Só queria terminar logo isso. Preparei-me e disse tudo e qualquer coisa que viesse em minha mente. Qualquer coisa que o fizesse perceber, que eu me apaixonei por ele em questão de horas, e que eu não queria vê-lo sendo de outra pessoa, eu tinha vontade de chamá-lo de meu naquele momento. Mas lembrei-me que mais do que nunca, agora ele não era meu. Respondi sua pergunta.
- Luiz Guilherme, eu te amo!
- Repete vai Sam, eu não entendi. – ele riu.
- Eu penso em você antes de dormir. Como meu melhor amigo, quantas vezes você ouviu isso de mim? Que eu pensava em algum menino?
- Nem sabia que eu era teu melhor amigo mano. – ele disse surpreso. – Mas mesmo assim, nenhuma vez, você nunca pensa em alguém Sam, só em você.
- É isso! Exato! E de repente eu comecei a pensar mais em você que em mim, como nunca tinha acontecido antes!Eu preciso que acredite em mim, Luiz, eu te amo. – pausei, e repeti lentamente – Eu te amo.
- Verdadeiramente você me ama, Sam?
Eu sabia que ele não estava acreditando, ou pelo menos achava que eu estava apenas zoando com ele.
Mas o que eu sentia por ele era verdadeiro, intenso, profundo, e existente dessa vez, não é uma farsa como da última vez que fingimos estar namorando pra livrar ele da Marina da oitava série, que não largava ele em momento algum. Era engraçado lembrar disso, mas eu não conseguia sorrir.
- Eu nunca fui tão sincera. – eu falei, firmemente.
- Se eu terminar com a Camila, eu não vou me arrepender?
Eu não pedi pra ele fazer isso, e eu nem queria. Não podia magoá-lo mais do que já magoei. E sabe, pensando bem, talvez ela tivesse uma capacidade maior de fazê-lo feliz, como eu possivelmente não faria. Em todo esse tempo que a gente se conhece, eu sei que já o magoei, com atitudes, palavras, brincadeiras e até pensamentos. Eu o amava, mas preferia vê-lo feliz com alguém que ele pudesse aprender a amar, do que tê-lo ao meu lado magoando-o, fazendo com que ele aprenda a me odiar. Eu o amava o suficiente, que perderia tudo, para vê-lo feliz, como ele merece.
E tristemente eu respondi que sim, que ele iria se arrepender.
- Obrigado! Eu queria mesmo ouvir isso. – disse movimentando a cabeça . Eu não entendia o que queria dizer. – Até a próxima se houver Samantha.
Eu abaixei a cabeça, e sentei no chão, na minha posição preferida. Fetal.
Pus a mão no peito, pois parecia que meu coração estava sendo tirado de mim por garras de animais ferozes, e eles estavam famintos por um coração sofrido, que não sentia nada, a não ser o pesar de sua alma, e a dor de suas lágrimas descendo em seus olhos lentamente. E os animais, eram meu passado, me condenando por ter sido a Samantha Foxter, eu odiava o que eu era. Preferia ser antes, o que hoje, me tornei. E eu sei que aquela Samantha sem coração, dentro de mim estava morta.
Minha tristeza era o que me possuía.

Um comentário:

  1. "Samantha sem coração, dentro de mim estava morta.
    Minha tristeza era o que me possuía" numa voz dramática de teatro fica perfeito...

    Não li toda a história de Samantha, más algumas coisas que eu li gostei parabens...

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