quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A saga de Samantha - Capítulo 03

03.

Ao chegar em meu quarto, disse a Char o que teria acontecido, e visto que era verdade,ele saiu, acho que em busca dela, mas tranqüilo, pois sabíamos, que no dia seguinte, Ella estaria de volta.
Após a saída de Charlei, tranquei tudo, me tranquei inclusive em meu quarto, e deitei em minha cama.
Comecei a estudar então. A estudar fórmulas de P.A, que um amigo de classe, o Luiz, me forçava a aprender, mesmo que não estivéssemos dando esse assunto.
O Luiz era um típico estudante, preocupado com o futuro. Tinha sonhos, e mais que qualquer outra pessoa, eu desejava a ele toda a sorte do mundo, e queria que todos os seus sonhos fossem bem sucedidos.
Um dia, ele veria a Samantha sabendo todas as fórmulas de P.A existentes! Eu viraria nerd por ele.
Mas, sinceramente? Eu não consegui estudar. Deitei e dormir, e sabe que eu aprendi? Nunca estude na cama, dá muito sono.
Não se passaram duas horas de sono minhas, e o telefone tocou. Maldito telefone esse que eu desejei que nunca houvesse existido, pois me forçou a levantar da cama, pra ir até a sala atender.
- Alô. – saudei a pessoa do outro lado da linha.
- Oi, Sam? – perguntaram.
- Depende quem quer saber? – falei na brincadeira, esperando ouvir a voz de um amigo, ou uma amiga.
- Samantha, falo sério! Tenha muito cuidado ao sair de casa pra qualquer lugar. A morte está próxima de você, e eu a farei aproximar-se ainda mais meu bem. Prepare-se, dessa semana, sua vida, não passa.
Antes que eu pudesse responder ou perguntar algo, o telefone foi desligado, e com certeza, a ligação não teria caído.
Fiquei martelando, com isso na cabeça, o tempo todo. Eu ia olhar pela janela, pra ver se havia alguém me vigiando, mas até disso eu tive medo. E o pior, é que eu não reconheci a voz, nem ao menos pude identificar, se era feminina ou masculina, o que fez meu medo aumentar.
Eu não conseguia pensar em ninguém. Ninguém mesmo.
De repente, a campainha tocou. Eu levei um susto imenso, cheguei a pular, e meu coração acelerou. Não tinha nem forças pra andar, minhas pernas tremiam, não era mais eu quem me movia, era meu medo, chamado Medo.
Sentei-me no sofá, no tal local onde as pessoas chamam de braço, e tentei não sufocar com imagens de relance que vinham da minha mente, que me fazia sufocar ainda mais.
As imagens que meu medo formava, eram incrivelmente programadas pra me aterrorizar, e eu não conseguia parar de vê-las, embora tentasse, quando eu fechava meus olhos, elas vinham fixamente, e cada vez mais lúcidas, e pareciam ser a minha realidade. Mas eu ainda estava apenas na sala, sentada no sofá, ainda bem, mas eu sabia que pelo visto, era só por enquanto.
Enquanto isso a campainha não parava de tocar. E eu passava a mão na cabeça desesperadamente, sufocando, sufocando, e sufocando. Até que não vi mais nada, caí aos poucos no chão, encostei-me ao sofá, e comecei a chorar em posição fetal, ia pra frente, e pra trás. Não conseguia pensar. E a maldita campainha que não parava de tocar. Eu estava em pânico, aterrorizada, só consegui chorar. Peguei o telefone, tentei discar o número do Luiz, várias vezes, meus dedos não tinham firmeza ao tocar nas teclas, e eu quase não me lembrava os números que seguiriam a seqüência, mas eu por sorte consegui. Ele atendeu, e perguntava: Sam? Sam? E eu gritava altos gritos. Gritos esses que saiam do fundo de minha alma, e não emitiam som algum. Eu gritava o mais forte possível, mas nem eu me ouvia. Em meu rosto, escorriam gotas, que eu não sabia identificar, qual eram gotas de suor frio, e quais eram minhas lágrimas. Eu só sei que elas se perdiam no mesmo rumo. No início de meu sorriso. Que no momento, de sorriso, não tinha nada.
Eu percebi, que do outro lado da linha, o Luiz Guilherme, estava desesperado, eu sabia que ele conseguia ouvir o barulho que eu fazia, eu batia o telefone no chão, eu o meu grito saia como uma coisa vazia, mas dava pra perceber que eu estava com medo. Desliguei o telefone. Comecei a ouvir gritos, e mais gritos, não sabia se eram reais, ou fictícios, só sei que eu os ouvia, e eles eram aterrorizantes. Comecei a ver manchas de sombras nas janelas, no corredor a direita, e vi um rosto manchado no espelho de repente. Dei um grito. Apaguei.
Quando acordei, vi a minha mãe ao meu lado. A imagem embaraçada. A retina parecia não ter terminado de formar a imagem, meus olhos pareciam ter vontade própria. Não queriam abrir. Gritei, e mandei que ela saísse do quarto.
- Sam, Sam, está tudo bem, é a mamãe.
- Saaaaai, sai daqui, por favor – falava chorando muito – Sai daqui mãe, agora.
Eu não sentia nada mais além do medo me dominando.
Charlei, do meu lado, disse:
- O idiota do Luiz está aí.
- Quem ta aqui? A escola inteira? É?
- Na verdade, quase. Tá o Luiz, a Karol, a Luísa, e a Vanne, Inclusive, a Vanne está muito preocupada contigo amorzinho. – respondeu Char.
Vanne, era minha irmã, parte de pai. Embora nosso pai odiasse nossa relação, eu a amava, como filha da minha mãe. Ela era a irmã perfeita, que qualquer pessoa gostaria de ter. Pedi que a mandassem entrar.
Ela estava chorando, do mesmo modo que eu estava. Passou a mão sobre minha cabeça. Parecia estar muito preocupada mesmo, tal como disse Charlei.
- Samantha, o que aconteceu? Diga-me, preciso saber.
Eu não entendia o que exatamente ela queria saber no momento, a presença dela não me satisfazia.
- Van, por favor, retire-se.
- Como? Por quê? Você pediu que eu... – ela indagava sem parar.
Eu abaixei a cabeça, e pedi que ela mandasse outra pessoa entrar. Eu precisava de alguém. Mas não sabia de quem.
Ela mandou a Luísa, que se se encostou a mim, e disse que estava do meu lado. Eu sorri pra ela e simplesmente olhei pro lado, balancei a cabeça, e pedi á ela que se retirasse de meu quarto. Eu a amava, muito, mesmo. Mas não era ela.
Mandaram a Karol, quando ela entrou, sorriu, e eu estava tão perturbada, que falei que não queria falar com ela. Não hoje. E pedi desculpas.
Antes que eu fizesse qualquer ação, o Luiz entrou no quarto. Levantei-me, e antes que ele pudesse chegar á mim, eu cheguei á ele.
Eu o abracei, e pude sentir seu cheiro, sua respiração... Seu coração num ritmo acelerado. O meu coração, e o meu eu, clamavam por ele. Pedi que ficasse comigo, pelo menos aquela noite.
- Ficarei aqui contigo, o tempo necessário, e o desnecessário querida. – respondeu Luiz.
Eu não queria saber de mais nada, só de estar em seus braços, respirando o mesmo ar que ele, e tê-lo cuidando de mim. Ele era a única pessoa de que eu precisava.
Deitei-me de novo, e o Luiz ficou em pé mesmo, ao lado da cama.
O engraçado era que ninguém percebia a presença de Char, e de Ella em meu quarto, parecia até que eles não existiam ali dentro. E de alguma maneira, eles gostavam disso.
Mas ao mesmo tempo, faziam de tudo pra chamar atenção de quem estava lá.
Luiz disse que o Gustavo também queria me ver, e saber como eu estava. Pedi urgentemente que o mandassem entrar. O Gustavo tinha apenas seis anos, era primo do Luiz, e eu adorava a relação deles.
O Gu, quando entrou, começou a fazer eca paras coisas de menina que estava em meu quarto.
Chegou à beira da cama, abraçou as pernas do Luiz, e perguntou como eu estava, e perguntou sorrindo. O que me fez sorrir também.
- Eu estou bem agora bebê. – respondi, enxugando as lágrimas.
- Então por que está chorando Sam? – ele era esperto e observador demais pra quem tinha seis anos.
- Porque eu estou feliz em te ter aqui. Só por isso.
Ele fez uma cara que eu sabia não ter acreditado no que eu disse.
Minha mãe bateu a porta, e perguntou se eu estava bem.
- Mãe, a gente pode conversar um minuto? – perguntei.
Eu tinha que saber o que havia acontecido depois que eu desmaiei.
- Claro, eu tentei fazer isso antes. – ela provocou.
Luiz, e Gustavo, retiraram-se do quarto, e em seguida, minha mãe sentou a beira da cama, junto a mim.
- Mãe, o que aconteceu? – perguntei.
- Samantha, eu que te pergunto! Por que não abriu a porta pra mim? Você tá ficando louca garota? O que deu em você? – ela me tratou friamente.
Então era ela. Mas isso não significa que ela havia ligado pra mim também.
- Mãe, me ligaram e... – não me deixou terminar de falar.
- Vou te avisando Samantha, pára com essa idiotice de se fazer de vítima, você é muito chata, pára, deixa disso. É coisa da tua cabeça, sabia?
- Mas mãe... – novamente, não pude terminar.
- Escuta aqui Sam, eu não vou mais avisar.
Tive a impressão que ela queria que a ligação virasse fato.
- Eu não estou mentindo! Tem alguém querendo me matar! Mãe acorda! Deixa de estupidez!
- Estupidez? – ela gritou.
Ela me deu um tapa. Eu senti, muito bem a sua mão, forte e pesada, sobre meu rosto. Doeu tão profundo, que eu fiquei sem ação. Ela nunca me agredira no rosto antes.
Eu fui magoada, minha auto estima foi ferida, comecei meu choro novamente. Fique a sós, só Charlei e Ella comigo, ao meu lado, em silencio profundo.
Não sabia exatamente o porquê das lágrimas, se pela ligação, ou pela decepção que tivera com a atitude insensata da minha mãe.
Levantei da cama, fui até a sala, e comecei a falar.
- Gente, eu estou bem. Só recebi uma ligação, me ameaçando de morte, só isso, e é por causa do pânico em que me encontro que vocês estão aqui, mas se for pra cada um me dá um tapa , igual fez a pessoa que eu pensei que me apoiaria, saiam todos daqui, por favor! – disse, alertando-os.
Quando terminei de falar, minha mãe abaixou a cabeça, e pareceu estar arrependida. Ignorei-a.
As pessoas começaram a sair, ainda bem. Odiava ver aquele apartamento cheio de gente.
Sentei-me no sofá, e liguei a televisão.
A minha mãe falava, falava, e eu não queria ouvir, nem fazia questão de saber o que ela tinha a dizer naquele momento. Só sei que ela tentava se redimir. De que forma ela pretendia, eu não sei. Quando vi que ela estava muito perto de mim, me afastei, levantei, e fui pro quarto cansada. O Char, e a Ella, tinham ido embora. O celular tocou, era o Luiz. Perguntou como eu estava, se precisava de algo, conversamos um bom tempo, e ele me convenceu a deixar que minha mãe me explicasse o que aconteceu.
Fui até o quarto dela, ouvir o que tinha pra falar, se ela realmente tivesse algo a dizer.
Caminhando ao quarto, lembrei-me do pedido que fiz a Luiz. De ficar aqui comigo. Já não era mais verdade, pois ele já não se encontrava presente.

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